Arte em EPS Isopor®: Entrevista com o Artista Plástico

O portal Mundo Isopor® realizou uma entrevista exclusiva com Valdêni Ferrari, artista plástico, arquiteto e designer do Rio Grande do Sul. Encantado pelas possiblidades artísticas que diferentes materiais, como o EPS Isopor®, oferecem, Ferrari falou um pouco sobre suas obras e o cenário artístico (e social) brasileiro, além da Arte em EPS.

 

MI: Quando você começou a se expressar artisticamente? O que te influenciou?

VF: Minha família, os Ferrari, sempre foi uma típica família italiana grande, sempre envolvida com o ambiente criativo. Meus pais sempre criaram equipamentos que não conseguiam encontrar em um lugar ou outro.

Eu também construía meus brinquedos, usando minha criatividade com o que eu tinha; fosse madeira, osso ou pedra. Fazíamos caixinhas de música e relógios. Tudo quanto é apetrecho eu costumava abrir, destruir para ver o que tinha dentro. Isso lá na década de 60.

Daí minha expressão artística veio acontecendo ao natural com os materiais aos quais eu tinha acesso, como o EPS Isopor® e o grafeno. Foi mais um contexto dentro do meu acolhimento familiar no interior do Rio Grande do Sul.

 

MI: E você acha que esse envolvimento artístico mudou sua forma de ver o mundo?

 

VF: Sim. Hoje temos uma diversidade de conflitos sociais. Ao longo dos meus 62 anos absorvi as coisas que via acontecendo como uma esponja, tentando ver sempre o lado positivo delas.

Penso que a humanidade tem condições de passar por esses conflitos, e por isso fui juntando as partes, mastigando a criatividade e encontrando materiais pelo caminho. A arte trabalha com qualquer situação de material, desde que seja possível manipular e trabalhar.

Painel com figura em couro, madeira de demolição, madeira marfim e vegetação sintética / Painel de alumínio

Painel com figura em couro, madeira de demolição, madeira marfim e vegetação sintética / Painel de alumínio

 

MI: Nas suas obras podemos notar bastante influência da textura dos materiais. Como você explicaria essas influências?

 

VF: Certos materiais destinam mais a uma certa situação criativa, como um significado e um significante.

Uma vez peguei notas de cruzeiro antigas e fiz uma obra em que mostrava um mendigo como um milionário, e um milionário como um mendigo. Na cartola, homens eram jogados, tomando o lugar das notas.

Esse é o significado desse trabalho. A pintura, colagem ou escultura conseguem atingir uma situação mais transcendental e às vezes até espiritual, a partir dos materiais usados.

Esses materiais, como o EPS Isopor®, vão passando por nós e deixando suas marcas, e vamos usufruindo e tirando o máximo do que eles podem oferecer.

Pinturas feitas por Valdêni

Pinturas feitas por Valdêni.

 

MI: Suas obras também parecem ter uma influência onírica e surrealista, numa mistura de fantasia e natureza. O que inspira esses cenários fantásticos?

 

VF: A questão do cordão umbilical nos ligando à natureza. Isso chega muito a mim, assim como a mediunidade, o transcendental, o místico do mundo.

Se eu quero pintar um pássaro conversando com um peixe num ambiente agradável aos dois, eu posso; eu tenho essa criatividade, voo por esses ambientes e visito outros mundos.

Às vezes as pessoas me dizem: “mas como, isso não é possível”, e eu digo: “mas eu posso pintar”. Não é uma foto, não é uma situação real; é o que está dentro do meu espírito, da minha cabeça.

Pinturas feitas por Valdêni.
Pinturas feitas por Valdêni.

MI: Como você vê o cenário das artes plásticas no nosso país?

 

VF: Para mim a arte vem como um alento, uma coisa boa. Se nos formos ver a situação nas escolas, não existem condições físicas nem humanas para que se possam desenvolver trabalhos.

O mercado das artes também acompanha uma situação dúbia, que prefere lançar produtos como novelas, com pessoas vinculadas a interesses comerciais. Nesse processo muita gente boa vai ficando pelo caminho.

Uns se importam, outros não. A situação é pouco desejável. Eu não gostaria de ver valores humanos sendo abalroados por situações de interesse, nos quais emoções humanas não são levadas em consideração.

 

MI: E como você acha que essa situação poderia ser modificada?

 

VF: Tenho certo grau de otimismo, espero que a situação dos equipamentos e acessórios nas escolas mude. Hoje temos projetos que desenvolvem a inclusão digital, mas não temos esse tipo de coisa para desenvolver o artista.

Mas acredito que esse período de purgação pelo qual não só o Brasil, mas mundo está passando, possa acabar.

Existem enormes possibilidades com materiais diversos. O estudo de grafeno e de outros elementos revolucionários, que podem proporcionar sentimentos, ou das evoluções cientificas e técnicas, assim como a alta cultura, podem fazer do Brasil um país criativo, que respeita sua arte, no qual se sai na rua e não se vê ruas sujas, monumentos quebrados ou patrimônio arquitetônico em desordem.

Enquanto não buscamos a educação, isso fica para o futuro.

 

MI: Você comentou sobre o papel da cultura na educação de um povo. Qual você acha ser o real papel da arte no desenvolvimento de um país?

 

VF: Acredito que a questão da cultura e da educação de um povo leva a uma estrutura social bem organizada, com respeito ao próximo, que valoriza sentimentos e tem a capacidade de dar oportunidades as pessoas para desenvolverem suas aptidões.

Alguns tem mais sensibilidade para apreciar arte, outros não. Mas se esse outro tem cultura, tem respeito, ele não destrói obras, monumentos ou painéis.

A cultura, como a arte, afina o sentimento humano. Ela permite ver as cores que se tem no mundo, os matizes das situações.

Pinturas feitas por Valdêni.
Pinturas feitas por Valdêni.

MI: A arte refine e desperta emoções. Qual a principal emoção que a sua arte pretende expressar?

 

VF: Eu tenho sempre um vínculo com a questão natural, e com a curiosidade de colocar objetos que não podem conviver juntos, em situações surreais ou transcendentais.

O que faço é buscar dentro do meio material e visual de uma lembrança espiritual, sobre o que não conhecemos, sobre as infinitas possibilidades que temos na nossa cabeça.

A possibilidade de poder compor situações impossíveis no meio físico me agrada, me satisfaz. Quase todos os meus quadros têm uma relação natural, seja uma folha, um pássaro ou algo que resgate a natureza em que o homem está contextualizado.

 

MI: Como você divulga suas obras?

 

VF: Sempre tenho um projeto ou outro em andamento ou em mente. Meus amigos, colegas e pessoas mais chegadas propagam o que eu faço.

Já tive assessoria nessa questão, mas ultimamente crio meu próprio ritmo. Não trabalho sob pressão, prezo meu tempo, minha família e a minha liberdade.

 

MI: Você acha que esse aspecto vendável atrapalha seu processo criativo?

 

VF: Não acho que atrapalhe, mas me coloca sob tempo previsto, o que é difícil. Muitas vezes você está num processo aprofundado, e vem as cobranças relacionadas ao tempo.

Tenho um quadro em minha casa, por exemplo, que estou pintando desde 1978. Eu pinto um pouco e paro, por que a cada momento tenho uma sensação diferente, uma ideia diferente, que quero colocar na obra. Essa liberdade para mim é fundamental, fazer as coisas com gosto, com profundidade, chegando onde eu quero chegar.

Isso para mim é minha arte.

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